O que é um Vinho de Curtimenta

Vinhos de curtimenta, frequentemente referidos no cenário internacional como "orange wines", são produzidos a partir de uvas brancas, mas com um método de vinificação típico dos tintos. Este processo envolve deixar as películas das uvas em contato com o mosto durante dias, semanas, ou mesmo meses, resultando em vinhos de uma complexidade e estrutura notáveis. A maceração pelicular confere aos vinhos uma cor distinta, que varia de amarelo dourado a âmbar, e um perfil aromático e gustativo profundamente enriquecido.

Origem dos Vinhos Curtimenta

A técnica de produção de vinhos de curtimenta na Geórgia, um país com uma das mais antigas tradições vinícolas do mundo, é um fascinante testemunho da profundidade e da riqueza cultural associadas ao vinho. Datando de mais de 5.000 anos, esta prática enraizada na história georgiana não é apenas uma forma de produção vinícola, mas um elemento intrínseco da identidade nacional do país.

Na essência desta técnica ancestral está o uso de qvevris, grandes ânforas de argila que são enterradas no solo até o gargalo. Esta metodologia única permite que o vinho fermente e maturize em contato direto com as películas das uvas, bem como com as leveduras selvagens presentes no ambiente, sem a intervenção de tecnologias modernas ou aditivos químicos. Este processo natural não só confere aos vinhos uma complexidade e uma textura distintas, mas também os dota de uma cor âmbar característica, que muitas vezes é surpreendente para aqueles acostumados apenas aos vinhos brancos convencionais.

Vinhos Curtimenta em Portugal

Na região dos Vinhos Verdes, a prática de produção de vinhos de curtimenta é vista como um retorno às raízes e uma homenagem à sabedoria ancestral. Um exemplo emblemático é o renomado enólogo Anselmo Mendes, que descreve o seu vinho Curtimenta como o reflexo direto das técnicas vinícolas ancestrais. Segundo Mendes, o processo de curtimenta não é uma novidade, mas sim uma redescoberta da maneira como os antigos produziam vinho, permitindo que as uvas revelassem sua essência mais pura e complexa.

No sul de Portugal, o Alentejo preserva uma das mais antigas tradições vinícolas do país, com a produção de vinhos de talha, uma prática que remonta aos Romanos. Esta técnica envolve a fermentação e maturação do vinho em grandes recipientes de barro, conhecidos como talhas, permitindo um tipo de maceração prolongada que pode ser considerada um precursor dos métodos de curtimenta modernos.

A simbiose entre esta tradição ancestral e a visão portuguesa de criar vinhos diferenciadores manifesta-se de forma única na produção de vinhos brancos em Portugal. Estes vinhos, dotados de uma estrutura mais robusta e de um perfil marcadamente gastronómico, distanciam-se do carácter rústico georgiano, apresentando-se mais elegantes e agradáveis ao paladar. Esta abordagem reflete um equilíbrio perfeito entre o respeito pelas técnicas milenares e a incessante busca por inovação, característica da vinicultura portuguesa, que continua a surpreender e a deliciar enófilos em todo o mundo.

Curtimenta Anselmo Mendes

Anselmo Mendes, conhecido como Senhor Alvarinho, estuda a casta há mais de 30 anos. Como um cientista num laboratório, analisa as diferentes expressões da casta de Monção e Melgaço.

Desde diferentes solos, exposições, altitudes, a diferentes estágios, o Senhor Alvarinho estuda o comportamento da casta em estágio de madeira a mais de 30 anos.

Um dos resultados é o Curtimenta, feito com uvas mais antigas carregadas de grande frescura e boa maturação para providenciar a estrutura necessária. Sofre uma pequena fermentação com películas antes de estagiar por 9 meses sobre as borras com bâtonnage em carvalho francês. 

Providenciando um vinho com um aroma a especiaria com fruta já seca como avelã e amêndoa, acidez infinita acompanhada com grande volume de boca. Um Alvarinho diferenciado.

Poucas refeições são me tão prazerosas como um Curtimenta com Arroz de marisco Português!

Alvarinho Curtimenta

Mestre Daniel Branco XVI Talhas

O projeto XXVI Talhas brota do coração de Vila Alva, uma expressão autêntica de dedicação e reverência à arte milenar de produção de vinho de talha, um legado romano enraizado nas tradições do Alentejo.

Nascido do sonho compartilhado por um grupo de amigos locais, tem como missão a salvaguarda e celebração desta prática vinícola ancestral. Unidos pela memória comum de observar os seus familiares a manusear as talhas de vinho, o grupo revive agora a antiga adega do Mestre Daniel, um espaço histórico dotado de 26 talhas, escolhidas como símbolo e nome deste projeto apaixonado: XXVI Talhas.

Este esforço não se limita apenas à produção de vinhos segundo os métodos tradicionais, mas estende-se à revitalização e promoção desta herança cultural única, numa altura em que a tradição vinícola de talha enfrenta o risco de esquecimento. Criando vinhos Frescos e autênticos.

Mestre Daniel Branco

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